terça-feira, 19 de agosto de 2008

Elfen Lied

Nota: 100%
Ano: 2004
Diretor: Mamoru Kanbe
Estúdio: GENCO / VAP / ARMS
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 25 min
Gênero: Drama / Terror / Violência

Ano após ano, os fãs de animação são contemplados com inúmeras obras memoráveis. E, embora sejamos brindados com uma enxurrada de coisas interessantes, sempre é possível eleger uma, que se ergueu, ainda que apenas um degrau, acima das demais. Em 95, tivemos o poderoso Evangelion da Gainax. Em 97, o aclamado Berserk, animação baseada em um dos mangas de maior sucesso da história. Em 2000, o magnífico BoogiePop Phantom deixou todos pasmos. Em 2003, foi a vez da (deveras agradável) surpresa Kimi Ga Nozomu Eien.

Lá se foi 2004. E com ele se foram muitos animes formidáveis. Para citar apenas alguns, temos: Samurai 7, Mosnter, Gantz, Samurai Champloo, Paranóia Agent e Gundam Seed Destiny. Que todas estas obras facilmente mereceriam uma na casa dos 90%, não restam dúvidas, mas a que realmente merece o conceito máximo, certamente, é Elfen Lied.

No que poderia ser definido como uma incrivelmente bem sucedida mistura de Akira, Chobits e Gantz (falo sério), Elfen Lied deixa o espectador boquiaberto do primeiro ao último minuto, com sua sincronizada sucessão de cenas de extrema violência, fan-service, drama e romance. É um atípico caso em que adolescentes com superpoderes, romances infantis e carnificinas à luz do dia não entojam nem mesmo os fãs mais refinados.

A história gira em torno da mutante Lucy e de dois primos, Kouta e Yuka. Após alguns anos de separação, graças a uma tragédia com sua família, Kouta decide ir morar com sua prima. Neste mesmo dia, ele e Yuka acabam por encontrar uma estranha garota com chifres, ferida e nua na praia. Após descobrirem que ela não consegue falar e age como uma criança, resolvem dar-lhe abrigo. Eles só não imaginavam que, acolhiam, no seio de seu próprio lar, a portadora do fim.

Conforme os dias vão passando, Kouta e Yuka vão ficando mais próximos de Nyuu (nome dado a Lucy - a mutante encontrada na praia - pelo fato de ser a única palavra que ela consegue pronunciar) e estarrecedores fatos sobre o passado dos primos, bem como da implacável assassina de dupla personalidade e dos demais personagens vão se revelando.

Muitos devem estar se pergunatndo agora: "Chifres? Que diabos?" Sim. A turminha "do mal" - que no final se mostra do bem, se comparada aos homens - composta de belas garotas, adornadas com cabelos em tons avermelhados, chifres, alguns pares de braços invisíveis a mais e sexto sentido extremamente desenvolvido, se trata, na realidade, de uma nova espécie:os diclonius (dois chifres). Induzida por um vírus, criada, cultivada e exposta a dolorosas experiências em laboratório pelo homem, atribuí-se, a essa espécie, a futura aniquilição da humanidade.
Elfen Lied conta com uma história primorosa e complexa. Sem deixar de lado a inocência dos puros de coração, toca em assuntos delicados como preconceito, intolerância, pedofilia, abusos domésticos, crueldade humana e por aí fora.

Aspectos técnicos como traço, animação e trilha sonora são irretocáveis, também. "Lilium", tema de abertura, pomposa canção lírica, totalmente em Latim, retirada de uma passagem bíblica, em contraposição com "Be Your Girl" música no melhor estilo Peach Girl, tema de encerramento, dá uma perfeita noção do sincretismo aspirado - e alcançado - pelo autor.

Com roteiro por conta de Takao Yoshioka, dirigida por Mamoru Kanbe e produzido pelos estúdios VAP/Genco, já era de se esperar algo de qualidade. Devo admitir que assisti a Elfen Lied ao mesmo tempo que a Boys Be e Naruto, que são dois fracassos nos quesitos traço e história, respectivamente, e isto, provavelmente, o fez subir ainda mais no meu conceito, embora eu não leve isso em conta nesta imparcial review.

Se não há muito o que se dizer sobre a animação, há uma consideração que merece ser feita sobre o (belo) traço de Seiji Kishimoto: se houvesse alguma premiação para a categoria "tamanho dos olhos dos personagens", Elfen Lied certamente levaria. Sem exagero (por minha parte), eles ocupam, facilmente, quase a metade dos rostos dos personagens. Mas, longe de ser desagradável, isso os torna ainda mais expressivos.

O nome da série "Elfen Lied", que significa Canção Élfica, (bem como os títulos de cada episódio) está em alemão, Muito provavelmente baseado na canção alemã de mesmo nome, de Eduard Mörike. Outro fato interessante sobre o anime e que, muitos devem se deleitar a respeito é a abertura. As suntuosas imagens foram retiradas da mais notável pintura de Gustav Klimt, "O Beijo", que se encontra atualmente em Viena.

Desnecessário dizer, a essa altura, que falamos de uma obra "cult". Não é para qualquer pessoa, definitivamente. Em primeiro lugar por sua exacerbada violência gráfica: a quantidade de decapitações e estripações cometidas por Lucy logo no primeiro episódio já deixa isso bastante claro. Em segundo lugar, pelo fascinante sadismo com que o autor intercala essas cenas viscerais, com cenas coloridas e felizes. E, em terceiro lugar - e principalmente - pela incomoda (para alguns) transparência com que o mais sombrio e sórdido lado humano é revelado, sem ressalvas.
Ok, vamos à parte mais ingrata do trabalho de escrever "reviews": a famigerada nota.

Considerando-se que a nota máxima exige perfeição em contrapartida, não vejo outra nota possível. Não vou negar que achei alguns dos diálogos do anime um pouco sem nexo (a parte que Maya explica a Nana porque ela não deveria queimar dinheiro, por exemplo), mas como a chance disto ser culpa do fansub é de 99,99%, uma penalização seria injusta. Tem a questão do final também, deixado mais ou menos em aberto, com uma leve tendência a um final feliz, o que particularmente não me agrada e muito menos combina com a série. Mas por ter sido deixado em aberto, ficar conjeturando mais do que realmente é mostrado, seria mera especulação.

Apenas para encerrar, um amigo meu reclamou do que ele considera "excesso de fan-service" no anime. Bem, ainda no campo excessos (muito farto nessa obra), alguém poderia dizer o mesmo em relação à violência ou a hipocrisia retratada pelo autor. Mas da mesma forma que não faz sentido reclamar de excessos de situações sexuais em um hentai, não faz sentido reclamar dos excessos recém mencionados em Elfen Lied. É apenas uma questão de entender ao que a obra se propõe. Sendo assim...

Obs: Ainda indeciso se deve assistir ou não? Assista o primeiro episódio, se conseguir, prossiga. A violência, bem como os demais temas pesados, continuam, mas quem chegou até lá deverá conseguir.

Guilherme Merschmann in
AnimeHaus

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